Quanto Vale Uma Garrafa De Vinho?
Garrafas de Vinho de Bernardo de Irigoyen

Quando entramos no mundo do vinho, ele não sai mais de dentro de nós.

(eu mesmo)

Vinhos

Tomo vinho desde muito antes de isto ter se tornado hábito para um número cada vez maior de pessoas. Meu primeiro encontro com a Rita (em 1986) foi regado por nada menos do que 4 garrafas do precioso líquido.

É exatamente assim. A cada vinho que tomamos, queremos que o próximo ofereça uma experiência melhor. Esta experiência melhor, geralmente, vem acompanhada de um preço maior, aliás, como quase tudo na vida.

Li certa vez uma frase que diz tudo:

Beber vinho é empobrecer feliz.

Neste mundo, ou você faz boas compras ou, embora feliz, você vai empobrecer muito rápido.

De Granja

Quem me conhece sabe, sou de granja, aquele tipo de pessoa conhecida, apesar dos meus protestos, como Nutella.

Consigo sempre uma boa desculpa para declinar de programas com baixo teor de Nutellice.

O que talvez algumas pessoas não saibam é a forte atração que tenho pela expressão “preço baixo”. Não sei quantas vezes comprei coisas, das quais nem precisava, só para não perder uma “boa oportunidade”.

Agora, a junção da expressão “preço baixo” com a palavra “vinho” tem em mim um efeito aterrador, capaz de afastar qualquer traço de Nutellice.

O Convite

– Bora pra Barracão…

Este foi o convite do meu cunhado.

Barracão faz parte da tríplice fronteira que divide os municípios de Barracão (Paraná), Dionísio Cerqueira (Santa Catarina) e Bernardo de Irigoyen (Argentina).

Não, ninguém que vai para lá está em busca de fazer turismo e visitar o marco das três fronteiras.

A ideia é comprar vinhos, muitos vinhos, por preços baixos, muito baixos.

Os Preparativos

Barracão não é para amadores.

A mala para a viagem se resume a uma sacola de supermercado contendo a escova e pasta de dentes, uma roupa íntima e uma camiseta limpas.

Dinheiro vivo no bolso.

O Pessoal

Os parceiros de viagem eram meu cunhado (que particularmente não faz jus ao célebre ditado que diz que se cunhado fosse bom não começava deste jeito) e amigos dele. Todos gente boa demais. Aquele tipo de pessoa que se torna velho amigo logo na primeira saudação, que aliás, geralmente é um xingamento.

O Trajeto

700 km que ligam Curitiba até Barracão (a parte Nutella da viagem, de São Paulo a Curitiba, nem vou mencionar aqui).

Não contei, mas fazendo a média de 1 caminhão a cada 10 km, devemos ter ultrapassado, só na ida, cerca de 70 caminhões. Puro chute que parece subestimado pois, bastava olhar para frente para ver a traseira de um caminhão.

Aliás, ver não é exatamente a palavra correta. Sentir um caminhão descreveria melhor pois, com a chuva que estava, não dava para ver absolutamente nada.

A Viagem

O meio de locomoção foi uma van de 9 lugares que já foi nova. Mas faz muito tempo.

A Van
A Van

O banco da van não se ligava em nada à palavra conforto.

–  Quem sabe dá para ler meu livro… mas meus olhos e as linhas escritas no livro insistiam em não se alinhar. Algo como tentar equilibrar um ovo sobre uma britadeira.

Mas deu para dormir. Entre uma piada boa e outra ótima.

No caminho, depois de 4 horas, uma única parada. Esticar as pernas, toalete, um bolinho de carne e descansar um pouco.

Quem quis descansar um pouco mais foi a valente van que, depois da parada, não queria dar sinais de vida. Nada que uma empurrada de 50 metros não tenha resolvido.

Hora de Comer

Finalmente chegamos a Barracão. Fome de quem passou o dia com um bolinho de carne.

Os vinhos estão lá do outro lado

A pizzaria tem vista para o lago que separa o Brasil da Argentina.

Os vinhos estão lá do outro lado. Parece que é só esticar a mão para pegar.

– Tem vinho?

– Só colonial da casa. 15 reais o copo.

– Uma Coca Zero, por favor.

Tudo acompanhado de pizza família, cortada em 16 pedaços, e música sertaneja alta. Para mim, insuportavelmente alta. Mas todos na mesa parecem saber de cor todas as letras.

O Hotel

No hotel, fomos recebidos pela Pretinha, uma vira-lata simpática que, depois de 5 intermináveis minutos de latidos infernais, virou minha melhor amiga.

O hotel é limpo e…

É, não achei mais nada de bom para falar.

Na verdade, estou sendo injusto, no banheiro do hotel tinha um mimo. Um paninho multiuso tipo perfex.

Um mimo…

Eu fui dormir – quem sabe, se eu dormir logo, amanhece mais rápido.

Os outros foram procurar o que fazer.

As Compras

loja de vinhos em Bernardo de Irigoyen
loja de vinhos em Bernardo de Irigoyen

Dia de pinto no lixo.

Dia de menino de 13 anos.

O café da manhã só serve para fazer hora, até as lojas do outro lado abrirem.

Os mais afoitos vão antes, vai que…

Eu estava neste time.

Abriram 7h45. Oba…

Cada um vai fazendo sua pilha de caixas.

caixas de vinho
Minhas caixas

– Você vai levar picanha e camarão?

– O azeite está com preço ótimo.

– Não esquece os alfajores.

– Eu só vou levar vinho.

– Deixa eu ver o que você pegou?

– Como vamos levar para o lado brasileiro?

– Será que vai caber na van?

– A polícia não vai nos parar?

– Dá uma gorjeta pros meninos que estão carregando as caixas.

– Melhor reforçar a gorjeta…

Alguns amigos escoltam a carga preciosa até o hotel.

Alguns vão procurar outras lojas.

Eu estava neste time.

Tudo Tem Limite

Não por falta de vontade. Os vinhos eram os melhores.

Não por falta de dinheiro. A conversão estava extremamente favorável.

Não por falta de tempo. Ainda eram 10h da manhã.

Infelizmente tudo tem limite, inclusive o espaço da van.

Não compramos mais nada.

Quanto Vale Uma Garrafa De Vinho? - Van lotada
Será que ainda tem espaço na Van?

Hora de a engenharia desafiar Newton (será que dois corpos realmente não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo?) e ajeitar a van encontrando lugar para nós e todos os “brinquedos” que compramos.

Uma verdadeira operação de guerra que no fim, entre xingamentos (que mais parecem declarações de amor), brincadeiras e palhaçadas, acabou acomodando tudo. Inclusive nós mesmos.

Hora de Voltar

Excitação de criança que quer chegar logo em casa para abrir os presentes.

– Vamos embora?

Mas antes, almoço rápido em uma churrascaria. Surpreendentemente boa. Carne gostosa com coca litro e música sertaneja, mais uma vez infernalmente alta.

7 marmanjos numa van depois de um rodízio só podem dizer uma coisa: janelas abertas.

Próxima parada oficial (além daquelas em que os menos Nutella fazem xixi no mato): o mesmo posto que paramos na ida.

Um empurrãozinho
Um empurrãozinho

Água, xixi e empurrão na van. Acho que ela gosta tanto deste lugar que nunca quer sair.

Em casa

A volta para casa mais parece a utilização da ferramenta 5W2H: Que vinhos vou abrir primeiro?  Onde vamos beber? Com que harmonizar? Como vou guardar? Com quem vou tomar? Quanto gastei mesmo? E uma deliciosa sensação de possuir preciosidades.

Sim, os vinhos em Bernardo de Irigoyen são baratos. Mas o valor agregado a cada uma destas garrafas que trouxe, não tem preço… como quase tudo na vida!

A Pergunta

– Bora pra Barracão…

Quando é a próxima?

Obrigado Robson pelo convite e aos novos amigos de infância Bastiani, Jorginho, Nei, Rodrigo e Thiago pela extraordinária companhia.

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