Listas

Coisas para fazer

Sempre adorei listas.

Ver uma lista, de qualquer tipo, é uma armadilha da qual nunca consigo escapar.

Os 5 lugares melhores para visitar;

Os 10 melhores restaurantes;

As x melhores praias;

Os y melhores automóveis, músicas, computadores, companhias aéreas, pilotos, celulares, etc.

Recordes, então, nem se fala.

Qualquer uma destas tentações que chega aos meus olhos, é o suficiente para que eu pare o que estou fazendo, leia detalhadamente, investigue o conteúdo, discorde ou aplauda e, no final, abasteça meu repertório generalista nerd.

Não à toa, o filme Alta Fidelidade é um dos meus preferidos (para sessão da tarde, é claro). E da minha filha também. Não sei se para felicidade ou infelicidade dela, um fruto nunca cai longe do pé.

O Livro 101 Coisas a Fazer Antes de Morrer

Livro 101 Coisas a Fazer Antes de Morrer
Livro primoroso e divertido de Richard Horne

Ganhei este livro em 2007. Como esperado, parei tudo o que estava fazendo, passei os olhos, mostrei algumas destas coisas para as pessoas que estavam comigo, dei algumas boas risadas mas, por uma desatenção, ele foi parar naquele lugar obscuro onde se guarda o “vou ler logo depois que terminar o livro que estou lendo”.

Dei de cara com ele novamente esta semana.

A sina se repete. Parar tudo, ler, rir, comentar…

Realmente o autor (Richard Horne) fez um trabalho divertido e primoroso de escrita, diagramação e ilustração.

Algumas ideias são realmente deliciosas de se imaginar (quem não gostaria de “Jogar um dardo no mapa e viajar para onde ele cair – #43”?), algumas vou preferir não comentar aqui (#7 ou #18) e outras não estão exatamente nos meus planos (“Ser preso – #23”).

Comentei com a minha mulher que achei difícil colocar a grande maioria destas ideias em prática na minha vida.

– Então faz a sua (lista). Respondeu ela.

No meu casamento eu sou um típico executivo. Ela manda, eu executo.

Talvez não contenha coisas tão emocionantes quanto o livro original, mas podem ser coisas bem gostosas de fazer. Aí vão elas:

1. Quebre a rotina

Na verdade, TUDO neste post é sobre quebrar rotinas e, para começar, preciso declarar que não considero a palavra ROTINA uma coisa ruim. Muito pelo contrário, adoro a rotina. Além disso, entendo que o nosso cérebro aprende pela repetição (da mesma forma que a Donna, minha querida Border Collie) e, quanto mais repetimos uma tarefa, menos energia gastamos para que ela seja executada. Além da rotina nos ajudar a colocar algumas atividades “automaticamente” no nosso dia a dia (escovar os dentes, responder e-mails, colocar o cinto de segurança, ler notícias…). O problema é acabarmos colocando tudo no piloto automático e a vida passar sem que a gente perceba.

  • Use look diferente do que você gosta e costuma usar;
    • Experimente uma refeição diferente da usual;
    • Ligue (ou mande mensagem) para alguém com quem não fala faz tempo. I just call to say I love you…;
    • Escolha outro caminho para voltar para casa e não hesite em parar, se achar algo que te “chame”;
    • Faça um convite para alguém que não vê há muito tempo para um jantar em casa;
    • No fundo tudo aqui trata de cometer a traição de quebrar a (sua) tradição – a maravilhosa Clarice Niskier trata este assunto de forma deliciosa e impactante, na obrigatória peça A Alma Imoral.

2. Faça uma grande caminhada

Uma longa caminhada não é (só) exercício físico. Uma caminhada, realmente longa, vai exercitar também sua determinação, seu equilíbrio emocional, sua disciplina, sua sensibilidade, sua confiança e fé, além da sua resistência, é claro. Confesso que aprendi muito mais percorrendo a pé uns bons quilômetros em estradas de terra do que em meses assistindo documentários, filmes, séries, noticiários…

Fiz duas vezes o Caminho da Fé. Fez tão bem para mim que vou fazer o Caminho de Caravaggio e o Caminho de Santiago em 2022.

  • Antes de embarcar nesta “viagem” vale a pena acessar este link.

3. Faça uma surpresa

É claro que as festas surpresa podem ser bem gostosas. Mas falo aqui sobre algo mais inusitado.

  • Faça uma reserva num bom restaurante e mande só uma mensagem, com hora e endereço, para quem você deseja surpreender;
    • Leve alguém para se hospedar, por um fim de semana, num hotel na cidade onde você mora e banque o turista por um dia;
    • Convide alguém para uma viagem, sem dizer o destino, e só revele na hora de embarcar no avião, carro, trem ou navio;
    • Compre algo, que você viu só pelo olhar, que uma pessoa querida gostaria de ter, e ofereça para ela;
    • Não espere nenhuma data especial. O segredo é se focar no outro. O que realmente faria a(o) felizarda(o) feliz.

4. Ajude alguém

Não estou falando daquela ajuda pasteurizada em que você abre sua carteira, fim.

Estou falando de emprestar sua competência para alguém que realmente precise. Colocar a serviço de alguém aquilo que você recebeu (ou desenvolveu) como talento.

  • Ajude alguém a alavancar um negócio, desenvolver uma habilidade, montar uma estratégia de negócio (ou de vida), enfim, faça com que sua energia ajude alguém a ser uma pessoa melhor.

5. Faça um encontro de amigos diferente

Esqueça as festas à fantasia, festa do Hawai (que não deixam de ser boas).

Embarque em algo realmente diferente.

  • Sarau literário / musical, festa do pijama, festa com mais pessoas do que caberia no local escolhido, cozinha compartilhada com os convidados, enfim, o céu é limite…
  • A regra é uma só: Tem que deixar histórias para se contar.

6. Fique um dia sem celular

Este é o nível hard da ideia de ficar um dia sem redes sociais.

É incrível, não obrigatoriamente ruim, como a nossa dependência destes aparelhinhos, que não existiam míseros 30 anos atrás (e também não eram tão “inhos” assim quando surgiram), se tornou absurda.

Ficar um dia inteiro sem um celular na mão pode te surpreender. Você pode descobrir que talvez você consiga respirar, se comunicar, se deslocar, observar (com os olhos, mesmo), se informar, até conversar numa mesa sem ele.

  • Ah, não vale tirar o telefone das mãos e deixar nos bolsos, tá?

7. Aprenda a cozinhar e sirva um prato diferente

Ao longo do tempo descobri que aquilo que chamo de “meu habitat natural” é um lugar inexplorado para muitas pessoas.

Cozinhar mistura uma porção de grandes sensações.

Quem é de tecnologia como eu, procura sempre uma forma de se expressar artisticamente. Meu momento de fazer arte sempre foi a cozinha. Misturar aromas e sabores em busca do “prato perfeito”.

Cozinho para mim. Mas geralmente nem como. Me alimento de observar as pessoas se alimentando de tudo que coloquei nas minhas receitas.

Para os não iniciados, é preciso superar o “eu não sei cozinhar”. Para os mais experimentados na cozinha é preciso ousadia.

  • A brincadeira aqui é experimentar aquele lugar desconfortável, que existe na incerteza ouvir algo entre o “estava gostosinho…” e o “*%$#, melhor comida que eu já provei na vida”.

8. Doe plaquetas

Coisas para fazer antes de morrer - doar plaquetas
Doação de plaquetas no Hospital Samaritano em São Paulo

Ninguém vai dizer que ficar mais de uma hora conectado numa máquina, com uma agulha espetada na sua veia, que tira o seu sangue, retira as plaquetas e depois devolve o sangue é uma coisa confortável. Acho que quase todas as outras sugestões aqui são mais agradáveis.

Mas, à medida em que você passa a ter noção de quantas pessoas se beneficiam da sua doação, a satisfação é muito maior do que o desconforto. Há mais de 15 anos doo plaquetas regularmente, em vários bancos de sangue. E, se seu problema for autoestima baixa, depois de sua primeira doação de plaquetas você vai receber inúmeras ligações apaixonadas… por suas plaquetas é claro.

9. Faça um dia de meditação em silêncio

Templo Zulai
Dia de meditação em silêncio no Templo Zulai

Eu não me achava capaz disto. Sou daquelas pessoas que ronca quando medita.

Mas a história se repetiu. Minha mulher sugeriu e lá estava eu em posição de lótus.

Confesso que me surpreendi. No fim do dia me sentia leve, inteiro e iluminado.

  • Existem vários espaços que oferecem esta imersão. Fiz no Templo Zulai, porém ele está temporariamente fechado em função da pandemia.

Ao final, como bônus, as monjas nos convidaram a seguir os preceitos budistas: Não matar; não roubar; não mentir; não ter má conduta sexual; não consumir álcool. “Não consegue fazer 5 preceitos? Faz 4 preceitos.” Uma verdadeira aula de filosofia em apenas uma frase.

10. Publique um livro

Anteriormente já elenquei um monte de razões para não se meter nesta jornada da escrita mas, se você, como eu, não consegue resistir à ideia de compartilhar suas ideias, siga as instruções:

  • Crie posts que exprimam realmente o que você é e o que você pensa, publique num blog, convide as pessoas a lerem e darem suas sugestões. No final compile tudo e banque a publicação de um livro.

A minha lista

Com exceção do item 10, que você está me ajudando a executar, todas as demais consegui fazer.

Certa vez li numa vitrine: “Pessoas espertas fazem planos. Pessoas tolas têm histórias para contar”. Neste caso, acho muito melhor ser tolo.

E você, quais são as suas histórias?