Na Cozinha

É na cozinha que eu espero ela chegar

Penso no seu beijo e lanço mão de todos os temperos

Penso na sua pele e quero criar todas as texturas

Penso no seu corpo e sei que preciso preparar o prato perfeito

Ela já vai chegar

O coração bate mais forte

Vou colocando mais chama no fogão

É na cozinha que eu mostro o meu amor.

Era fim de carnaval, 2004. Fomos, pela manhã, buscar nossa filha, Paula. Ela estava com a Lana, uma amiga até hoje muito querida e o Alfio, pai dela, que até então eu não conhecia, mas hoje se tornou um grande amigo, numa casa em Juquehy.

– Vamos, filha?

Um abraço entre as amigas.

– Por favor, deixa ela ficar? Diz a Lana com quase lágrimas nos olhos.

– Não dá, temos que voltar hoje para casa. Mas você pode ir conosco se puder. Digo olhando para o pai dela.

– Você sabe que não pode. Amanhã bem cedo temos outro compromisso. Diz o Alfio.

Novo abraço acompanhado de, agora, um choro de verdade.

– Já sei. Que tal almoçarmos juntos e só sairmos depois? Digo tentando conciliar as coisas.

Nem terminei a frase e as duas já estavam correndo pelo jardim.

Lembro que o Alfio falou para comprarmos algo no mercado para o almoço, mas fui logo invadindo a geladeira e perguntando:

– Posso preparar algo com o que tem?

Ao final do almoço e de algumas garrafas de vinho veio a pergunta que mudou para sempre a minha relação com a cozinha:

– Quer que eu veja se consigo um estágio para você no (até hoje) restaurante mais renomado e famoso do Brasil? 

Tá bom, eu te amo também, pensei.

Dois longos dias depois recebo uma ligação do chef. 

– Pode começar amanhã?

Assim descobri que tudo que sabia desde sempre sobre a cozinha, valia muito pouco.

E que, técnica é só técnica. Paixão é só paixão.

Mas, misturar técnica com paixão na cozinha e servir isto em forma de comida é o que as pessoas chamam de talento.

Um abraço,

Victor Cosme